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07/05/2022 as 20:19:26 | por CPB |

A aliança com Abraão

“Abrão respondeu: ‘Senhor Deus, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?’”

Fotografo: CPB
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A aliança com Abraão
Lição 7
07 a 13 de maio
 
Sábado à tarde
Ano Bíblico: 1Cr 21-24
 
VERSO PARA MEMORIZAR: “Abrão respondeu: ‘Senhor Deus, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?’” (Gn 15:2).
 
LEITURAS DA SEMANA: Gn 15–19:29; Rm 4:3, 4, 9, 22; Gl 4:21-31; Rm 4:11; 9:9; Am 4:11
 
Em Gênesis 15 chegamos ao momento crucial em que Deus formalizou Sua aliança com Abraão. A aliança abraâmica é a segunda, após a aliança com Noé.
 
A exemplo da aliança de Noé, a de Abraão envolvia outras nações também, pois, em última instância, a aliança com Abraão é parte da aliança eterna, oferecida a toda a humanidade (Gn 17:7; Hb 13:20).
 
Esse período da vida de Abraão é cheio de temor e risos. Abrão sentiu medo (Gn 15:1), assim como Sara (Gn 18:15) e Agar (Gn 21:17). Abrão riu (Gn 17:17); Sara (Gn 18:12) e Ismael também (Gn 21:9). Esses capítulos ressoam sensibilidade e calor humanos. Abrão se interessou pela salvação dos sodomitas perversos; ele cuidou de Sarai, Agar e Ló; e foi hospitaleiro para com os três estrangeiros (Gn 18:6).
 
É nesse contexto que Abrão, cujo nome indica nobreza e respeitabilidade, teve seu nome alterado para Abraão, que significa “pai de muitas nações” (Gn 17:5). Assim, vemos mais indícios da natureza universal do que Deus planejava fazer por meio de Sua aliança com Abraão.

Domingo, 08 de maio
Ano Bíblico: 1Cr 25-27
A fé de Abraão
 
1. Como Abraão revelou o que significa viver pela fé? Qual é o significado do sacrifício que Deus pediu que Abrão fizesse? Gn 15; Rm 4:3, 4, 9, 22
 
A primeira resposta de Deus à preocupação de Abrão sobre um herdeiro (Gn 15:1-3) foi que ele teria um filho e este seria “gerado por [Abrão]” (Gn 15:4). A mesma linguagem foi usada pelo profeta Natã para se referir à semente do futuro rei messiânico (2Sm 7:12). Abrão foi tranquilizado e “creu no Senhor” (Gn 15:6), porque compreendeu que o cumprimento da promessa divina não dependia da sua própria justiça, mas da justiça de Deus (Gn 15:6; compare com Rm 4:5, 6).
 
Essa noção é extraordinária, em especial naquela cultura. Na religião dos antigos egípcios, por exemplo, o juízo se dava com base na contagem das obras humanas de justiça em comparação à justiça da deusa Maat, que representava a justiça divina. Em suma, a pessoa devia ganhar a “salvação”.
 
Então, Deus preparou uma cerimônia de sacrifício para Abrão realizar. Basicamente, o sacrifício apontava para a morte de Cristo pelos nossos pecados. Somos salvos pela graça, o dom da justiça de Deus, simbolizado por esses sacrifícios. Contudo, essa cerimônia em particular transmitiria mensagens específicas a Abrão. As aves de rapina sobre os cadáveres dos animais sacrificais (Gn 15:9-11) significavam que os descendentes de Abrão seriam escravos por “quatrocentos anos” (Gn 15:13), ou quatro gerações. Na quarta geração, seus descendentes voltariam para lá (Gn 15:16).
 
A última cena da cerimônia de sacrifício foi dramática: “um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo passaram entre aqueles pedaços” (Gn 15:17). Esse acontecimento extraordinário significou o compromisso de Deus em cumprir Sua promessa de aliança de dar terras aos descendentes de Abraão (Gn 15:18).
 
Os limites da terra prometida, “desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates” (Gn 15:18), nos lembram dos limites do jardim do Éden (Gn 2:13, 14). Portanto, essa profecia tinha mais em vista do que o êxodo e uma pátria para Israel. No horizonte distante dessa profecia, nos descendentes de Abraão tomando o país de Canaã se vislumbrava a salvação do povo de Deus, que, no tempo do fim, retornará ao Éden.

Segunda-feira, 09 de maio
Ano Bíblico: 1Cr 28, 29
Dúvidas de Abraão
 
2. Leia Gênesis 16:1-16. Qual é o significado da decisão de Abrão de se envolver com Agar, apesar da promessa de Deus a ele? Como as duas mulheres representam duas atitudes de fé (Gl 4:21-31)?
 
Quando Abrão duvidou (Gn 15:2), Deus assegurou que ele teria um filho. Dez anos depois, Abrão ainda não tinha descendente. O patriarca parecia ter perdido a fé: não mais acreditava que fosse possível ter um filho com Sarai, que, sem esperança, o incentivou a recorrer a uma prática da época no antigo Oriente Próximo: arranjar uma substituta. Agar, serva de Sarai, foi nomeada para essa função. Funcionou. A estratégia pareceu mais eficiente do que a fé nas promessas divinas.
 
A passagem que descreve a relação de Sarai com Abrão relembra a história de Adão e Eva no jardim do Éden. Os dois textos compartilham uma série de temas comuns (Sarai, como Eva, foi ativa; Abrão, como Adão, foi passivo), como também verbos e frases (“ouvir a voz”, “receber” e “dar”). Esse paralelo entre as duas histórias implica na desaprovação divina quanto a esse curso de ação.
 
Paulo se referiu a essa história para mostrar seu ponto de vista sobre obras versus graça (Gl 4:23-26). Em ambos os relatos, o resultado foi o mesmo: a recompensa imediata da atitude humana alheia à vontade de Deus levou a problemas posteriores. Observe que Deus esteve ausente durante toda a ação. Sarai falou sobre o Senhor, mas nunca falou com Ele; nem Deus falou com nenhum deles. Essa ausência divina é marcante, especialmente depois da intensa presença divina no capítulo anterior.
 
Deus apareceu a Agar, mas somente depois que ela saiu da casa de Abrão. Essa aparição inesperada revela a presença do Senhor, apesar do esforço humano para agir sem Ele. A referência ao “Anjo do Senhor” (Gn 16:7) é um título frequentemente identificado com o Senhor, YHWH (Gn 18:1, 13, 22). Dessa vez foi Deus quem tomou a iniciativa e anunciou a Agar que ela daria à luz um filho, Ismael, cujo nome significava “Deus ouve” (Gn 16:11). Ironicamente, a história, que termina com a ideia de ouvir (shama’), ecoa o ato de ouvir no início da narrativa, quando Abrão “ouviu” (shama’) a voz de Sarai (Gn 16:2, ARC).

Terça-feira, 10 de maio
Ano Bíblico: 2Cr 1-4
O sinal da aliança abraâmica
 
3. Leia Gênesis 17:1-19 e Romanos 4:11. Qual é o significado espiritual e profético do rito da circuncisão? 
 
A falta de fé de Abrão, como visto na história anterior (Gn 16), quebrou o fluxo da jornada espiritual do patriarca com Deus. Nesse tempo, o Senhor ficou em silêncio. Pela primeira vez então, Deus falou novamente com Abrão. Ele Se reconectou a Abrão e o trouxe de volta ao ponto em que fez uma aliança com ele (Gn 15:18).
 
Deus lhe deu o sinal dessa aliança. O significado da circuncisão tem sido discutido há muito tempo pelos estudiosos. Visto que o rito da circuncisão envolvia o derramamento de sangue (ver Êx 4:25), poderia ser entendido no contexto do sacrifício, indicando que a justiça foi imputada a ele (compare com Rm 4:11).
 
Também chama a atenção o fato de que essa aliança, representada pela circuncisão, seja descrita em termos que apontam para a primeira profecia messiânica (compare Gn 17:7 com Gn 3:15). O paralelo entre os dois textos sugere que a promessa de Deus a Abrão diz respeito a mais do que apenas o nascimento físico de um povo; contém a promessa espiritual de salvação para todos os povos da Terra. E a promessa da “aliança eterna” (Gn 17:7) refere-se à obra da semente messiânica, o sacrifício de Cristo que garante a vida eterna a todos os que a reivindicam mediante a fé e tudo o que a fé envolve (compare com Rm 6:23; Tt 1:2).
 
Curiosamente, essa promessa de um futuro eterno se relaciona à mudança do nome de Abrão e Sarai, os quais se referiam apenas ao seu status de então: Abrão significa “pai exaltado”, e Sarai significa “minha princesa” (a princesa de Abrão). A mudança de seus nomes para “Abraão” e “Sara”, respectivamente, referia-se ao futuro: Abraão significa “pai de muitas nações” e Sara significa “a princesa” (de todos). Paralelamente, mas não sem ironia, o nome de Isaque (“ele rirá”) é uma lembrança da atitude de Abraão (a primeira risada registrada nas Escrituras, Gn 17:17); uma risada de ceticismo ou, talvez, de admiração. Embora acreditasse no que o Senhor claramente havia prometido a ele, Abraão ainda lutava para ter fé e confiança.

Quarta-feira, 11 de maio
Ano Bíblico: 2Cr 5-7
O filho da promessa
 
A última cena da circuncisão envolveu todos: não apenas Ismael, mas todos os homens da casa de Abraão foram circuncidados (Gn 17:23- 27). A palavra kol (“todos”) é repetida quatro vezes (Gn 17:23, 27). Foi nesse contexto inclusivo que Deus apareceu a Abraão para confirmar a promessa de um filho, “Isaque”.
 
4. Que lições de hospitalidade aprendemos com Abraão? Como você explica a reação divina a essa hospitalidade? Gn 18:1-15; Rm 9:9
 
Não está claro se Abraão sabia quem eram os estrangeiros (Hb 13:2), embora agisse para com eles como se o próprio Deus estivesse ali. Ele estava sentado “à entrada da tenda, no maior calor do dia” (Gn 18:1), e, como visitantes são raros no deserto, provavelmente ele desejasse encontrá- los. Abraão correu em direção aos homens (Gn 18:2), embora tivesse 99 anos. Ele chamou uma dessas pessoas de Adonai, “Senhor meu” (Gn 18:3), título frequentemente usado para Deus (Gn 20:4; Êx 15:17). Ele se apressou no preparo da refeição, esteve ao lado deles, atento às suas necessidades e pronto para servi-los (Gn 18:6-8).
 
O comportamento de Abraão para com visitantes celestiais se tornaria um modelo inspirador de hospitalidade (Hb 13:2). A atitude reverente de Abraão transmite uma filosofia de hospitalidade. Mostrar respeito e atenção para com estranhos não é apenas um belo gesto de cortesia. A Bíblia enfatiza que é um dever religioso, como se dirigido ao próprio Deus (Mt 25:35-40). Ironicamente, Deus Se identifica mais com o estrangeiro faminto e necessitado do que com o generoso que o recebe.
 
Por outro lado, a intrusão divina na esfera humana denota graça e amor para com a humanidade. Essa aparição de Deus antecipava Cristo, que deixou o lar celestial e Se tornou Servo humano para alcançar a humanidade (Fp 2:7, 8). A presença de Deus confirmou a promessa. Ele viu Sara, que se escondeu “atrás de Abraão”, e conhecia seus pensamentos (Gn 18:10, 12). Ele sabia que ela tinha rido, e “riu” foi Sua última palavra. O ceticismo de Sara se tornou o ponto em que Ele cumpriria Sua palavra.

Quinta-feira, 12 de maio
Ano Bíblico: 2Cr 8, 9
Ló em Sodoma
 
5. Leia Gênesis 18:16–19:29. Como o ministério profético de Abraão afetou sua responsabilidade para com Ló?
 
Deus acabava de reafirmar a Abraão a promessa de um filho. No entanto, em vez de aproveitar as boas-novas, ele falou com Deus sobre o destino de Ló em Sodoma. Abraão não foi apenas um profeta a quem Deus revelou Sua vontade; ele também foi um profeta que intercedeu pelos ímpios. A frase hebraica “na presença do Senhor” (Gn 18:22) é uma expressão idiomática que tinha o significado de orar.
 
Abraão desafiou a Deus e barganhou com Ele para salvar Sodoma, onde residia Ló. Indo de 50 para 10, Deus teria salvado o povo se apenas 10 pessoas fossem justas.
 
Ao lermos a história do que aconteceu quando os dois anjos foram a Ló para avisá-lo do que estava por vir (Gn 19:1-10), percebemos o quanto o povo havia se tornado doente e mau. Sodoma era um lugar perverso, assim como muitas das nações ao seu redor, motivo pelo qual, por fim, foram expulsos da terra (ver Gn 15:16).
 
“E agora a última noite de Sodoma estava se aproximando. As nuvens da vingança já lançavam sombras sobre a cidade condenada. No entanto, o povo não percebeu. Enquanto anjos se aproximavam em sua missão de destruição, as pessoas sonhavam com prosperidade e prazer. O último dia foi como todos os outros, tendo chegado e logo ido embora. A tarde caía sobre cenas de encanto e segurança. Uma paisagem de beleza incomparável era banhada pelos raios do Sol poente. O frescor da tarde havia atraído para fora de casa os habitantes da cidade, e as multidões em busca de divertimentos passavam de um lado para outro, preocupadas com os prazeres daquele momento” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 125 [157, 158]).
 
No fim, Deus salvou apenas Ló e suas filhas, quase a metade do mínimo de 10. Os genros, que não levaram a sério o aviso de Ló, ficaram na cidade (Gn 19:14, 15).
 
Aquele lindo país foi destruído. O verbo hafakh, “destruir”, aparece várias vezes (Gn 19:21, 25, 29) e caracteriza a destruição de Sodoma (Dt 29:23; Am 4:11). A ideia é que o país foi “revertido”. Assim como o dilúvio “reverteu” a criação original (Gn 6:7), a destruição de Sodoma foi uma “reversão” do jardim do Éden (Gn 13:10). Na destruição de Sodoma há um prenúncio da destruição que ocorrerá no tempo do fim (Jd 7).

Sexta-feira, 13 de maio
Ano Bíblico: 2Cr 10-13
Estudo adicional
 
Leia Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 315-319 [370-373] (“A aliança da graça”).
 
O apelo de Abraão em favor de Sodoma (Gn 18:22-33) deve nos encorajar a orar pelos ímpios que estão em uma condição desesperadora de pecado. Além disso, a resposta atenta de Deus à insistência de Abraão e Sua disposição de perdoar por causa de apenas “dez” justos é um conceito “revolucionário”, como aponta Gerhard F. Hasel: “De maneira extremamente revolucionária, o antigo pensamento coletivo, que punia o membro inocente da associação culpada, foi transposto a algo novo: a presença de um remanescente de justos poderia ter uma função preservadora para o todo. [...] Por causa do remanescente justo, Yahweh, em sua justiça [tsedaqah], perdoaria a cidade iníqua. Essa noção é amplamente expandida na declaração profética do Servo de Yahweh que opera a salvação ‘para muitos’” (The Remnant: The History and Theology of the Remnant Idea From Genesis to Isaiah [Andrews University Press], p. 150, 151).
 
“Ao nosso redor, existem vidas que estão afundando em ruína tão irremediável e terrível como aquela que recaiu sobre Sodoma. A cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. [...] Onde estão as vozes de aviso e apelo, dizendo para o pecador fugir dessa condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para fazê-lo retroceder do caminho da morte? Onde estão os que [...] intercedem junto a Deus por ele?
 
“O espírito de Abraão era o espírito de Cristo. E o Filho de Deus é o grande Intercessor em favor do pecador. Aquele que pagou o preço pela redenção do ser humano sabe o valor de uma vida” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 110 [140]).
 
Perguntas para consideração
 
1. Apenas o arco-íris e a circuncisão são chamados de “sinal da aliança”. Quais são os pontos comuns e as diferenças entre as duas alianças?
 
2. Embora chamado por Deus e mencionado no NT como exemplo dos fiéis, Abraão vacilou em alguns momentos. Que lições tiramos de seu exemplo?
 
3. Alguns questionam a ideia da punição aos perdidos, dizendo que isso seria contrário ao amor divino. Qual é a nossa resposta, sabendo que Deus punirá os perdidos?
 
Respostas e atividades da semana: 1. Abraão entendeu que o cumprimento da promessa não dependia da sua própria justiça, mas da justiça de Deus. O sacrifício apontava para a morte de Cristo e transmitiu mensagens específicas sobre o êxodo, a pátria para Israel e a salvação do povo de Deus no tempo do fim. 2. Significa que ele tentou solucionar o problema por si mesmo; fé na obra humana versus fé na obra divina. 3. A justiça atribuída ao que crê; o sacrifício de Cristo garante vida eterna aos que a reivindicam pela fé 4. Abraão recebeu com atenção os desconhecidos. Mostrar respeito e atenção a estranhos é um dever, como se dirigido a Deus. O Senhor reafirmou Sua promessa. 5. Abraão não foi apenas um profeta a quem Deus revelou Sua vontade; ele também intercedeu pelos ímpios.
 
Resumo da Lição 7
A aliança com Abraão
TEXTOS-CHAVES: Gn 15:6; 17:5; 18:23
 
FOCO DO ESTUDO: Gn 15–19; Rm 4:2-11; Am 4:11
 
ESBOÇO
 
Introdução: Nesta semana, chegamos ao cerne da experiência religiosa de Abrão. Foi a ocasião em que Deus fez Sua aliança com o patriarca, que é a segunda aliança de Deus após Sua aliança com Noé (Gn 6:18–9:20). A aliança abraâmica contém os mesmos requisitos da aliança com o patriarca do dilúvio. Como na aliança com Noé, a aliança abraâmica começa com uma cerimônia sacrifical associada à promessa de um filho e uma pátria. A aliança é confirmada por um sinal. A aliança abraâmica tem, no entanto, diferenças em relação à aliança com Noé e apresenta novos elementos. Possui duas cerimônias de sacrifício. O sinal é a circuncisão, e Abrão recebe o novo nome de Abraão. Além disso, a narrativa bíblica fornece duas perspectivas diferentes dessa aliança. Enquanto na aliança com o antediluviano o foco está em Deus, e a pessoa de Noé é subjugada, a aliança com Abraão inclui a perspectiva de Abraão, e, como resultado, seu curso se desenvolve de uma maneira mais complicada.
 
Temas da lição:
 
• A tensão da fé. A fé de Abraão é composta por perguntas e dúvidas; Abraão acredita em Deus apesar de si mesmo. Sua risada significa ironia e espanto. Sua oração a Deus está cheia de submissão e desafios.
 
• As leis da hospitalidade. O cuidado de Abraão para com seus convidados estrangeiros contrasta com a insensibilidade e ameaças dos sodomitas para com os estrangeiros.
 
• A intercessão. Então Abraão rogou pelos ímpios da cidade de Sodoma, esperando que houvesse justos o suficiente para evitar a destruição.
 
COMENTÁRIO
 
Abrão crê no Senhor
 
A fé de Abrão iniciou-se com temor e continuou com dúvidas e perguntas. O que ele mais temia era o desconhecido, seu futuro, algo que não podia controlar. Por isso, Abrão confiava no presente e fez de seu servo Eliézer seu herdeiro (Gn 15:2). E, quando Deus falou com Abrão, usou uma série de expressões que apontavam para o futuro. A frase “não tenha medo” é com frequência associada à promessa de descendentes. A mesma promessa para o futuro também está contida na palavra magen, “escudo” (Gn 15:1), que ecoa o verbo magan, “entregar” (Gn 14:20), usado em conexão com sua vitória passada. Assim, vemos que o Deus que salvou Abrão no passado é o mesmo Deus que o salvaria posteriormente. Considerar Deus como seu futuro inspirou em Abrão a fé no futuro: “Abrão creu”.
 
O verbo hebraico he’emin, “creu”, descreve mais do que um processo sentimental ou intelectual ou a mera referência a um credo. Em hebraico, “crer” é relacional, conforme implícito na raiz ‘aman, “firme”, “confiável”. Ao confiar em Deus, Abrão “creu” que teria descendentes. É essa fé que Deus lhe “atribuiu” como “justiça”. Em outras palavras, o Pai “considerou” essa fé como tendo o mesmo valor de justiça. Essa visão tem sentido no contexto das antigas crenças egípcias. No antigo Egito, o peso da justiça humana era avaliado com base na contagem das obras humanas em relação ao peso de Maat, a justiça divina; no caso de Abrão, era avaliada com base nas obras divinas em favor dele. O que tornou Abrão justo não foi a soma de suas obras, mas sua fé nas obras de Deus por ele (Rm 4:2-4).
 
Abraão ri com o Senhor
 
A reação imediata de Abraão ao anúncio divino foi prostrar-se em silêncio e temor (Gn 17:17). Essa foi a segunda vez em que ele se prostrou em silêncio (compare com Gn 17:3). Dessa vez, porém, o ato de prostrar-se estava associado ao riso, o primeiro riso registrado na Bíblia. Não está claro se esse riso indicava ceticismo ou espanto. O fato de que tenha ocorrido no contexto de seu ato de adoração sugere que indicava espanto. No entanto, assim que Abraão falou, o ceticismo prevaleceu. Ele propôs uma solução razoável referindo-se a Ismael. Essa recomendação cética de sua parte exigiu que Deus fosse específico. A promessa divina não dizia respeito a Ismael. Deus respondeu às perguntas de Abraão de forma explícita, com o nome de Isaque (Gn 17:19). Ironicamente, Isaque significa “ele ri”, ecoando o riso de Abraão.
 
Mas, dessa vez, foi Deus quem riu, pois o nome Isaque contém o nome de Deus, como sugerem os estudos linguísticos semíticos e bíblicos sobre nomes. Em paralelo ao nome Ismael, “Deus ouviu”, o nome de Isaque também deve ter levado, ao menos implicitamente, o nome de Deus: “[Deus] riu”. O riso do Senhor relembrava o riso de Abraão. Mais tarde, Sara também haveria de rir. O contexto do riso de Sara aumenta o espanto implícito nas situações anteriores. Sara, que estava escondida no interior da tenda, ouviu sobre a inacreditável notícia do nascimento e depois riu disso. Então algo estranho aconteceu. Embora tivesse rido “em seu íntimo” (Gn 18:12), o visitante conheceu seus pensamentos (Gn 18:10). Essa capacidade excepcional indicou a Abraão e a Sara que estavam na presença do Senhor, o que garantiu a maravilha do nascimento milagroso. Ao primeiro riso de Abraão, de dúvida e temor, Deus respondeu com um riso de ironia e promessa.
 
Abraão cozinha para o Senhor
 
Pela primeira vez, Abraão recebia convidados celestiais sem saber. Suas atitudes seriam lembradas como um modelo de hospitalidade (compare com Hb 13:2). Em vez de se envolver de imediato com a promessa da aliança, motivo de Sua visita, Deus entrou na esfera humana. Ele foi visto, conhecido e alimentado por Abraão. Era a hora da sesta. Abraão estava sentado diante da tenda, como se estivesse esperando, aguardando que alguém chegasse. No deserto, passavam poucas pessoas. Por isso, quando avistou alguém de longe, ele correu, o que é extraordinário, considerando sua idade avançada (ele tinha 99 anos) e o fato de que havia sido circuncidado havia pouco tempo (Gn 17:24). Assim que se encontrou com os convidados, ocupou-se em atendê-los e preparou-lhes uma refeição. Depois de oferecer água para lavar os pés deles (Gn 18:4), Abraão selecionou o melhor alimento para a refeição (Gn 18:6, 7) e envolveu toda a sua família nesse trabalho. Sara preparou o pão (Gn 18:6), e o jovem, provavelmente Ismael, preparou o bezerro (Gn 18:8). No entanto, Abraão humildemente qualificou a refeição como “um pouco de comida” (Gn 18:5). Obviamente, sua atenção e seu zelo para com os três visitantes resultavam de sua intuição de que eles fossem de uma classe especial. O fato de que ele se dirigiu a um deles como Adonai, “Senhor meu” (Gn 18:2, 3), sugere essa percepção. O oferecimento de alimento e água ao Visitante não exclui necessariamente o reconhecimento da identidade divina. A expressão “humana” dos visitantes, que se puseram de pé (Gn 18:2), comeram (Gn 18:8) e conversaram (Gn 18:9), fazia parte da estratégia divina da encarnação do Senhor, que desceu até os humanos. Abraão ficou ao lado deles (Gn 18:8), atento às suas necessidades e pronto para servi-los.
 
Abraão insiste com o Senhor
 
O verbo “permanecer”, usado apenas para descrever Abraão servindo seus convidados (Gn 18:8), reaparece para caracterizar sua atitude para com Deus (Gn 18:22). A preposição “diante”, que acompanha o verbo “permanecer”, é normalmente usada para descrever reverência perante Deus e um momento de oração a Ele (Dt 10:8; 1Rs 17:1; Zc 3:1). Esse exemplo mostra a primeira vez na Bíblia que alguém orou em favor de outra pessoa. Até Noé permaneceu em silêncio em circunstâncias semelhantes (Gn 6:13-22). O verbo hebraico wayyigash, “aproximar-se”, sugere a hesitação de Abraão e sua lenta aproximação de Deus (Gn 18:22, 23). Abraão foi ousado, mas permaneceu respeitosamente à distância. Com muito tato, dirigiu-se a Deus com um total de sete perguntas. Abraão envolveu o Senhor em uma sessão de súplica insistente, passando de 50 para dez. Com base em Amós 5:3, sugeriu-se que 50 significam meia cidade pequena, que contém um mínimo de 100 homens (compare com Jz 20:10). Abraão começou seu desafio assumindo um número igual de justos e iníquos na cidade. Quando chegou ao número dez (Gn 18:32) entendeu que havia atingido o limite e, portanto, decidiu que não iria além desse número. O número dez simboliza a ideia de mínimo. Significativamente, dez é representado por yod, a menor letra do alfabeto hebraico (veja Mt 5:18). Mais tarde, o número dez se tornaria no judaísmo o mínimo exigido para a comunidade de adoração (minyan). Que esse mínimo de dez justos seria suficiente para salvar a comunidade coletiva é um conceito que prefigura o ministério do Servo sofredor, que “justificará a muitos” (Is 53:11). Depois de haver dado seis respostas, Deus encerrou abruptamente sua conversa com Abraão. Embora tenha consentido em consultar os humanos, permaneceu soberano em Seu julgamento.
 
APLICAÇÃO PARA A VIDA
 
Abraão creu no Senhor. Como podemos treinar as pessoas para ter fé? Por que a fé bíblica se ocupa, essencialmente, do futuro? Como você aconselharia alguém que acabou de perder um ente querido a ter fé? Como pode relacionar a fé pessoal com a esperança?
 
Abraão riu com o Senhor. Discuta sobre o argumento que às vezes é apresentado de que o riso vem do diabo. Pesquise na Bíblia (AT e NT) exemplos de risos e humor. Por que o riso e o humor são compatíveis com a religião verdadeira? Por que algumas religiões rejeitam o riso?
 
Abraão cozinhou para o Senhor. Como o zelo do patriarca em preparar um bom alimento inspira missão e adoração? Encontre na Bíblia (AT e NT) momentos em que o alimento e as refeições desempenharam papel crucial nos ritos cerimoniais de uma aliança com Deus. Por que o alimento é tão importante na Bíblia? Por que o ascetismo (abstenção de prazeres carnais e do conforto material, de quem busca alcançar a perfeição moral e espiritual) é incompatível com os valores bíblicos?
 
Abraão insistiu com o Senhor. Por que a ousadia de Abraão e o desafio à vontade divina foram um ato de fé? Como você aplicaria esse exemplo à sua experiência de oração? Encontre casos na Bíblia e na história em que uma pessoa religiosa suplicou de forma insistente e fez um acordo com Deus.
 
A conversão de David
 
Quando eu era jovem, fiz parte de uma quadrilha e vendia maconha e outras drogas em Angola. Éramos 13 membros na quadrilha e eu comprava drogas para outros venderem. Sendo que eu não usava drogas, meus colegas começaram a pensar que me considerava melhor que eles. Por isso, o líder me confrontou: “Se você não fumar a erva conosco, vamos bater em você.” O que poderia fazer? Fumei. Minha inserção à maconha iniciou uma descida profunda na vida do crime.
 
Eu não fiquei responsável simplesmente por comprar drogas e entrega-las aos membros da quadrilha. Comecei a participar de roubo de carros, lojas e casas. Aterrorizamos bairros fora da capital, Luanda, e a polícia decidiu agir. Em um curto período de tempo, eles conseguiram matar todos os meus 12 companheiros. De alguma forma, eu sobrevivi. Destemidos, um amigo e eu formamos uma nova quadrilha. Agora, eu era um líder muito viciado em drogas e crime.
 
Porém, eu não sentia orgulho da vida que levava. Vi 180 amigos serem assassinados pela polícia. Fui preso 40 vezes e condenado três vezes. Foi durante a minha terceira condenação à prisão que ouvi sobre a igreja adventista pela primeira vez. Um membro da igreja me visitava regularmente e ofereceu estudos bíblicos.
 
Depois de cumprir minha pena, fui solto e mudei para a casa da minha tia, rapidamente formei uma nova quadrilha. Durante o assalto a um posto de combustível, algo deu errado e o segurança foi assassinado. Quando a polícia soube que eu estava na casa da minha tia, chegaram para me matar. Mais uma vez, estranhamente sobrevivi à batida policial. Eu estava dormindo quando a polícia chegou e, de certo modo, não conseguiram me encontrar embora tenham me procurado por todos os lados.
 
Minha tia ficou amedrontada e disse para que eu saísse da casa. Por isso, mudei para o porão da casa da minha mãe. Ela não queria que eu liderasse a quadrilha estando ali; por isso me levou a um curandeiro que prometeu ajudar. Por algum tempo, os feitiços do curandeiro pareceram funcionar. Por quatro meses, não usei drogas nem cometi crime. Minha mãe e o restante da família ficaram muito felizes. Mas, no quinto mês, voltei minha antiga vida com mais entusiasmo que antes. Minha vida parecia sem esperança.
 
Então, conheci um homem que todos chamavam de Pimp (Cafetão). Ele tinha tatuagens por todo o corpo. Com esse nome e aparência, imaginei que, assim como eu, era membro de alguma quadrilha. Mas ele não agia como um criminoso. Ele era adventista. Certo dia, Pimp mostrou Romanos 8:14, que diz: “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” . Quando ouvi essas palavras, um desejo profundo de me tornar filho de Deus brotou em meu coração. Eu me perguntava: “Será que Deus tem um plano até para mim?”
 
Comecei a estudar a Bíblia com Pimp. Enquanto estudávamos, aprendi a respeito de Deus e percebi que Ele amava todos, inclusive uma pessoa como eu. Vi que Jesus morreu por mim. “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Minha vida começou a mudar. Decidi que queria morrer — morrer para minha antiga vida e nascer novamente em Jesus. Entreguei o coração a Jesus e me uni à igreja adventista em 2013.
 
Hoje, graças a Deus, estudo teologia na Universidade Adventista de Moçambique. Minha família, vizinhos e amigos criticam muito minha decisão de seguir a Cristo, mas não me importo. Tudo o que desejo é servir a Jesus pelo resto da minha vida. Meu coração é Dele. Oro para que me use a fim de conduzir outros corações a Ele, incluindo minha família.
 
Há três anos, as ofertas missionárias ajudaram a Universidade Adventista de Moçambique a construir novas salas de aula e comprar novos equipamentos. Neste trimestre, as ofertas ajudarão a concluir quatro projetos em Angola, incluindo uma escola adventista em Luanda. Muito obrigado pelas ofertas generosas.
 
Informações adicionais
 
Peça que um homem apresente esta história na primeira pessoa.
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Para mais notícias do Informativo Mundial das Missões e outras informações sobre a Divisão Sul-Africana Oceano Índico: bit.ly/sid-2022.
Esta história ilustra o Objetivo de Crescimento Espiritual nº 5 do plano estratégico da Igreja Adventista do projeto “I Wil Go” (Eu irei): “discipular indivíduos e família na vida espiritual”. As ofertas trimestrais para a Universidade Adventista de Moçambique ilustram o Objetivo Missionário nº 4: “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.
 
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022
 
Tema Geral: Gênesis
 
Lição 7 – 7 a 14 de maio de 2022
 
A aliança com Abraão
 
Autor: Wilian S. Cardoso
 
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
 
Revisora: Josiéli Nóbrega
 
Dentro de toda a história de Abraão (Gn 12–25), podemos dizer que a parte central de seu relato se encontra entre os capítulos 15 a 17, uma vez que nesses capítulos se concentram as mais veementes alianças de Deus com Abraão.
 
Algum tempo depois dos eventos dramáticos do capítulo 14, Deus voltou a falar com Abraão. Especificamente, somos informados que a palavra do Senhor veio a Abraão em uma visão (makhaze). Essa linguagem é muitas vezes usada na Bíblia para descrever o relacionamento entre Deus e um profeta. E da mesma forma que acontece em outras visões proféticas, esse encontro envolveu imagens impactantes.
 
As primeiras palavras de Deus a Abraão são de segurança: “Não tenha medo [...] Eu sou o seu escudo, e lhe darei uma grande recompensa”. Os versículos seguintes deixam claro que realmente Abraão tinha dúvidas de como Deus cumpriria as grandes promessas que ele tinha feito. Deus trabalhou com as emoções de Abraão: não há necessidade de receio, Eu servirei como seu escudo, sua proteção contra os problemas. A recompensa virá e a espera valerá a pena. Contudo, uma vez que Abraão foi chamado por Deus aos 75 anos (Gn 12:4) e ainda não tinha filhos, a preocupação dele é compreensível. Abraão não estava necessariamente questionando a capacidade de Deus, mas estava pedindo a Ele mais detalhes de como planejava cumprir Seus propósitos.
 
Aparentemente, Abraão parecia estar mais preocupado com a realização da promessa do que o próprio Deus. Afinal, o cumprimento da promessa colocava em jogo a possibilidade de restauração da criação ao seu formato original. Além disso, seu nome Abrão significa “pai exaltado”, mas ele ainda não havia se tornado pai e a esterilidade de Sara, somando-se à idade avançada de ambos, tornava isso cada vez mais improvável. Estranhamente, parece que Abraão acreditava na possiblidade de Deus miraculosamente tornar Sara fértil, mas, por outro lado, Ele não conseguiria isso se ambos fossem velhos.
 
A resposta de Abraão revelou ainda mais sua ansiedade para que tudo fosse realizado o mais iminentemente possível – era uma luta contra o tempo e os efeitos que ele causa. Ele havia buscado uma alternativa para adquirir um herdeiro e tornar a promessa divina uma realidade em sua vida – por meio de Eliézer, seu servo mais fiel. Uma porção de tabletes encontrados na antiga cidade de Nuzi, ao norte do atual Iraque, nos ajudam a entender o que Abraão estava tentando fazer. Seus escritos revelam que, sob a lei hurrita, o herdeiro de um homem poderia ser seu filho natural, um herdeiro direto, ou, na ausência um filho natural, um herdeiro indireto, isto é, um estrangeiro ou servo adotado para esse propósito. Neste último caso, o herdeiro adotado era obrigado a atender as necessidades físicas de seus “pais” durante sua vida a fim de que, após a morte deles, tivesse direito à herança.
 
A réplica divina é uma reafirmação de Sua promessa dita inicialmente: “Você e sua esposa conceberão um filho e este será o seu herdeiro”. Diferente da abordagem inicial, agora, Deus procurou aliviar a ansiedade de Abraão não apenas por palavras, mas com ações expressas em um ritual. De modo impressionante, da mesma forma que Abraão usou um costume de sua cultura local a fim de ocasionar o cumprimento da promessa – a adoção de um servo, Deus fez uso do mesmo recurso cultural a fim de garantir a Abraão que suas palavras eram reais e que ele realmente seria pai.
 
Documentos de várias regiões do Antigo Oriente Médio, datados do 2º milênio a.C., revelam que havia um costume entre os povos daquele período de fazer um tratado de aliança que era expresso por um ritual de automaldição, isto é, dois pactuantes selecionavam animais, os quais eram partidos e distribuídos pelo chão, e os contratantes circulariam ao redor dos pedaços jurando que, se não cumprissem sua parte no acordo, seu destino devia se tornar o mesmo daqueles animais. Veja, por exemplo, um trecho do tratado de Alalakh: “Abban declarou o juramento dos deuses a Yarim-lim e cortou o pescoço de uma ovelha, dizendo: ‘[Assim seja comigo] se eu tomar de volta o que te dei’”. 
 
Em outras palavras, Deus respondeu na linguagem de Abraão. Deus usou uma ideia familiar para Abraão, visivelmente concreta, para tornar claro para ele que, se Ele não cumprisse Sua promessa, Seu destino devia se tornar como o daqueles animais mortos. O mais curioso e chocante nisso é que, nesse episódio, somente Deus foi descrito como Aquele que andou pelos cadáveres declarando a automaldição.
 
É quase como se nos dias de hoje Deus nos levasse até um tabelionato a fim de que nossas assinaturas fossem reconhecidas, de modo que, caso uma parte não fosse fiel a qualquer das cláusulas contratuais, a outra teria o direito legal de recorrer à execução das sanções previstas na lei. É claro que o texto bíblico é muitas vezes mais impactante do que uma simples quebra de contrato moderno que levaria ao pagamento de uma multa ou à prisão. O fato é que, por mais que seja um absurdo pensar que Deus pudesse morrer, é tão absurdo quanto pensar que Ele não seria capaz de cumprir Sua palavra. 
 
No fim, Deus reacendeu a fé em Abraão e o reanimou, mas por quanto tempo? Qualquer pessoa que já teve uma experiência com Deus, sabe que infelizmente temos uma tendência natural, não somente com Deus, mas com tudo, em nos concentrar nos sentimentos negativos mais do que nos positivos. Foi por isso que a chama da certeza de Abraão se tornou mais fraca e novamente ele buscou um subterfúgio humano para cumprir a promessa divina.
 
Mais uma vez, os documentos de Nuzi são elucidativos. Além da adoção, o concubinato era outro método para prover um herdeiro no caso de um casamento sem filhos. Assim, um tablete de Nuzi declara: “Kelim-ninu (a noiva) foi dada em casamento a Shennima (o noivo) [...] Se Kelim-ninu não tiver filhos, Kelim-ninu deverá adquirir uma mulher da terra de Lulu (ou seja, uma escrava) como esposa para Shennima”. 
 
Novamente, Abraão precisou ser animado, e do mesmo jeito que Deus havia respondido antes, Ele respondeu então. A circuncisão era um procedimento comum em muitos povos antigos. A maioria dos relatos do Antigo Oriente Médio coloca a circuncisão na época da puberdade, seja para preparar os jovens para o casamento ou, como no Egito, para o sacerdócio. Ou seja, a circuncisão era praticada em jovens no exato momento em que eles tinham condições de contrair casamento, já que estavam prontos para a atividade sexual e, consequentemente, poderiam gerar filhos. A estranheza do pedido divino, portanto (e certamente isso foi notório para Abraão e qualquer pessoa que ouvisse falar disso na época), está no fato de a circuncisão ter que ser executada em um recém-nascido. Isso porque o que Deus estava ensinando a Abraão, e hoje por extensão a todos nós, é que a capacidade de cumprir a promessa não dependia dele, visto que um bebê jamais poderia gerar outro ser, quem dirá uma nação; essa capacidade vem exclusivamente do poder de Deus. Assim, sempre que Abraão visse a cicatriz em seu corpo, ele se lembraria disso.
 
Sendo um sinal da aliança, a circuncisão faz paralelo com o sinal do arco-íris da aliança com Noé. Enquanto o arco-íris foi um pacto com toda a Terra, a circuncisão foi uma aliança com o homem. Ambos os sinais representavam a mesma coisa: a capacidade divina de manter e cumprir Sua palavra. Ou seja, em ambos os casos, o cumprimento da aliança dependia exclusivamente de Deus, o homem era incapaz de cumprir a promessa. Dele só era exigida a fé.
 
Em outras palavras, o que o relato bíblico está apresentando são episódios da vida de Abraão que intercalam pelo menos 4 situações: sua fé, sua falta de fé, o reavivamento da fé por meio da ação de Deus, e sua natureza bondosa em tratar o próximo e se preocupar com ele. Ou seja, o texto intercala eventos que descrevem: (1º) que Abraão era um ser humano normal como eu e você; ele acreditava, mas em determinados momentos, usava seus próprios conceitos e sua força para realizar os planos que pertenciam a Deus; (2º) suas falhas não foram um problema para Deus, apesar de muitos problemas que surgiram na vida de Abraão como frutos de suas próprias escolhas e lapsos de fé. Deus estava disposto a moldar seu caráter e restaurar Sua imagem nele, visto que o patriarca possuía um coração abdicado e voluntário para fazer a vontade de Deus e cuidar dos outros ao seu redor. Abraão não foi mais especial do que você e eu somos para Deus. Apesar de suas falhas e quedas, ele vivia pela fé, a mesma atitude que Deus espera de todos os seus filhos.
 
Na verdade, voltando à história da “aliança dos pedaços” (Gn 15), Abraão não passou pelos pedaços porque a humanidade não tem capacidade de cumprir a aliança, pois ela sempre falhará. Logo, ele sempre deveria morrer como um animal despedaçado. Por isso, Deus, que nunca falha, assumiu nossa automaldição sobre Si mesmo, para que o destino que merecemos não seja o destino que receberemos. A nós cabe apenas acreditar na promessa e, pela fé, aguardar para ver Deus agindo e cumprindo Suas maravilhosas palavras de bênção e salvação para nós.
 
Referências:
 
(1) WEEKS, Noel. Admonition and Curse : the ancient Near Eastern treaty/covenant form as a problem in inter-cultural relationships. Londres: T&T Clark, 2004, p. 116.
 
(2) LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis . São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 160.  
 
(3) SETERS, John van. “The Problem of Childlessness in Near Eastern Law and the Patriarchs of Israel”. In: Journal of Biblical Literature , v. 87, nº 4, Dez. 1968, p. 404.      
 
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem. É pai de Sarah, Noah e de Shai. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.
 

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